LeiriaCon 2016 – Um fim-de-semana de jogos de tabuleiro
Este fim-de-semana consegui ir duas vezes à LeiriaCon 2016, uma conferência anual de jogos de tabuleiro que acontece no hotel Cristal da Praia da Vieira, perto de Leiria.
Foram dois dias onde consegui jogar 4 jogos diferentes, conhecer algumas novidades e reencontrar amigos.
LeiriaCon
A LeiriaCon é uma conferência de jogos de tabuleiro que acontece todos os anos no último fim-de-semana de Janeiro.
Existem três grandes componentes para a conferência.
- Ludoteca: essencialmente uma enorme lista de jogos que podemos simplesmente requisitar e jogar.
- Loja: a organização faz sempre uma loja com jogos portugueses e alguns internacionais fora do normal
- Usados e Trocas: muitos jogadores aproveitam a conferência para vender usados e para fazer trocas. A venda de usados é gerida pela organização.
A característica que me interessa mais é a ludoteca. É nesta conferência que tenho a oportunidade de jogar jogos que nunca joguei antes e que dificilmente iria comprar para mim. E eles têm uma vantagem extra que faz toda a diferença, para cada jogo um elemento da organização disponibiliza-se para explicar as regras e ajudar no inicio do jogo. Isto faz como que jogos que demorariam 1 ou 2 horas a configurar e entender possam ser iniciados muito mais depressa.
Este ano foi o 4º que fui à LeiriaCon, os dois primeiros foram no hotel Quinta do Pinheiro perto de Alcobaça, e em todos anos adorei a minha experiência. Não só pelos jogos que consigo jogar mas também pelas pessoas que consigo encontrar por lá. Alguns mesmo que não os vejo a não ser por lá.
Jogos de Tabuleiro que Joguei
Mysterium
No sábado joguei o Mysterium, um jogo colaborativo onde um jogador faz de espírito de uma vitima de assassinato e os restantes de psíquicos que tentam comunicar com o espírito para descobrir quem o matou.
Na configuração do jogo o espírito atribui um conjunto de cartas a cada psíquico que representam o seu suspeito. Existe uma carta para o suspeito, outra para a localização e por fim uma para a arma utilizada. Mas nenhum dos psíquicos sabem quais são as suas cartas e a primeira parte do jogo é eles tentarem descobrir isso mesmo.
O espírito não pode comunicar directamente com os psíquicos, portanto tem de se valer de outra forma de comunicação. Ele vai ter de usar umas cartas chamadas cartas de visão, que basicamente são cartas com uma imagem aleatória. E com essas cartas ele vai ter de dar pistas, isto porque nenhuma dessas cartas aponta directamente para nada. Temos de usar conceitos mais amplos como cor predominante ou um qualquer símbolo que esteja em destaque.
No fim desta primeira parte os psíquicos devem ter conseguido seleccionar o seu suspeito, e ao longo do jogo vão ganhando pontos de clarividência. A segunda parte consiste em pegar nos suspeitos e descobrir o culpado. Novamente o espírito é responsável por aleatoriamente escolher qual será o culpado no jogo.
Para tal os psíquicos usam os pontos de clarividência para decidir quantas visões do culpado vão poder ver, bem como a ordem pela qual eles vão votar no suspeito que pensam ser o assassino. Se a maioria dos votos indicar o culpado certo ganham o jogo, caso contrário perdem.
É um jogo muito engraçado porque as cartas que o espírito tem para as visões (eu fui o espírito no nosso jogo) obrigam a uma grande ginastica visual para conseguir dar pistas aos psíquicos.
Imagens do nosso jogo:
XCOM – The Board Game
O outro jogo que joguei no sábado foi o XCOM – The Board Game, e para quem conhece o original XCOM: Enemy Unknown, um jogo para PC que saiu em 1994, é essencialmente a versão jogo de tabuleiro.
A premissa do jogo é simples, existem uns extraterrestres que estão a invadir a Terra, e nós somos uma força criada pelos vários governos do mundo para os derrotar.
No jogo existem 4 papéis, o Commander, o Scientist, o Squad Leader e o Central Officer. Todos eles têm papéis e preocupações diferentes. O Commander gere o orçamento, o recrutamento de tropas e a compra de aviões, o Scientist é responsável pela pesquisa de novas tecnologias, o Squad Leader tem a seu cargo as tropas para as missões de reconhecimento de naves extraterrestres bem com de defesa da base e por fim o Central Officer é responsável pelos satélites de detecção dos extraterrestres bem como um papel diferentes de todos os outros – ele é responsável por utilizar a aplicação móvel que é necessária para jogar o jogo.
A aplicação móvel tem dois papéis principais. O primeiro é gerir o tempo máximo para a primeira ronda de cada turno. E o segundo é indicar o que acontece nessa ronda. Coisas como quantas naves aparecem e em que continentes, ou se a nossa base está ou não a ser atacada.
Nesta primeira ronda do turno nós tempos de ser rápidos a tomar a maior parte das decisões, mas depois temos a segunda parte do turno onde calculamos, usando dados, o resultado das nossas acções e onde podemos activar algumas habilidades especiais.
O facto de necessitar de uma aplicação à primeira vista parece negativo, mas trás muito mais dinamismo ao jogo, o que é muito interessante.
Eu gostei bastante deste jogo apesar de não o ter conseguido terminar por falta de tempo.
Caverna – The Cave Farmers
Já no domingo começámos com o Caverna: The Cave Farmers que é um jogo de estratégia onde assumimos o papel de um clã de anões que vivem numa caverna.
Para perceberem a complexidade do jogo, esta é simplesmente a lista de recursos com que jogamos:
- Cães
- Ovelhas
- Vacas
- Burros
- Javalis
- Grão
- Vegetais
- Pedra
- Madeira
- Minério
- Rubis
- Comida
- Ouro
- Armas
E os recursos são só as coisas que podemos adquirir ao longo do jogo, pois para jogar existem muito mais peças.
Mas, resumidamente, os jogadores começam com 2 anões que representam duas acções que podemos fazer por cada turno. O jogo começa com 9 acções possíveis e a cada turno uma nova acção é disponibilizada. As acções podem ser coisas simples como recolher recursos que entretanto acumularam, mais complexas como melhorar a nossa caverna ou criar um pasto cercado na floresta junto a caverna (para criar gado) ou mesmo fazer uma expedição que dá direito a loot.
Um dos melhores aspectos deste jogo é que permite múltiplas estratégias para vencer. Isto porque no final o que conta são os pontos de vitória e esses são calculados de muitas formas diferentes. Cada melhoria à nossa caverna dá um certo número de pontos, mas existem algumas cujos os pontos são dependentes do número de um tipo de recurso. Existem situações que dão pontos negativos como o não ter algum tipo de animal no final do jogo.
É um jogo com alguma complexidade, mas muito, muito interessante e desafiante. É daqueles que entrou directamente para a minha wishlist.
Legacy: The Testament of Duke de Crecy
O Legacy: The Testament of Duke de Crecy é daqueles jogos que se me descrevessem a temática antes de ter começado a visitar a LeiriaCon eu dizia que não queria jogar. Para mim os jogos de tabuleiro tinham de ter uma história de fantasia ou ficção científica para me interessarem. Mas uma coisa que aprendi nos 4 anos que visitei a LeiriaCon é que com as histórias mais banais ou aborrecidas e uma jogabilidade interessante faz-se um jogo extraordinário.
Neste caso o conceito do jogo é relativamente simples. Nós somos o chefe de uma familia e somos responsáveis por a fazer crescer ao longo de 3 gerações. Isso inclui organizar casamentos entre os nossos filhos / netos / bisnetos e os nossos amigos, tendo em atenção as particularidades de cada um. Alguns amigos são úteis porque aumentam o prestigio da familia outros porque trazem mais rendimento. Inclui também gerar descendência, portanto ter filhos, a cada geração. E também coisas como obter mansões, fazer contribuições para a sociedade, etc…
A mecânica é bastante engraçada, pois somos limitados no número e tipo de acções que podemos fazer pelos “cúmplices” que temos, e isso faz com que tenhamos de definir uma estratégia a longo prazo com base no estado inicial do jogo, mas também com base nos objectivos finais (que são diferentes para cada jogador).
Lá está, à primeira vista parece um jogo um pouco estranho, mas é muito agradável de jogar.
Aqui ficam umas fotos do nosso jogo:
Novidades e coisas que nunca tinha visto
Existem sempre muitas coisas novas (para mim pelo menos) nesta conferência, mas as que quero salientar aqui são duas:
WonderCover Games
A WonderCover Games é um empresa de Leiria que está a desenvolver um componente físico para dar uma nova dimensão às plataformas móveis.
De uma forma muito resumida é um componente de plástico que se coloca, por exemplo, num iPad e permite jogar um jogo multi-jogador mantendo uma parte do ecrã unicamente visível ao respectivo jogador.
Como é obvio isto não funciona para qualquer jogo visto que os jogos têm de posicionar os componentes a esconder no sítio certo, mas permite que se comecem a desenvolver jogos para multi-jogador que usem um único dispositivo móvel, o que é muito interessante do ponto de vista de jogos familiares.
Eles já têm um jogo de cartas com o engraçado sapo em desenvolvimento, e salvo erro a plataforma para que outras produtoras de jogos possam criar jogos na sua plataforma, mais nada ainda está no mercado. Não me lembro do mês exacto mas têm previsto o lançamento na primeira metade deste ano.
É algo sem dúvida a acompanhar, e se vocês o quiserem fazer o melhor sítio é mesmo a página de Facebook deles.
Um jogo que ocupava 4 mesas
Este não joguei só vi, mas o Memoir 44 estava ser jogado numa das salas superiores e ocupava pelo menos 4 mesas.
Este é um jogo de estratégia militar, e mais não consigo afirmar porque não cheguei a perceber, mas o que me saltou à vista é que os jogos de tabuleiro permitem uma muito maior flexibilidade do que qualquer plataforma digital (PC, consolas, ambientes móveis), quanto mais não seja nisto. Onde é que conseguíamos num computador por maior que seja o ecrã ter uma visão do campo de batalha deste género:
Os jogos que comprei
Eu não consigo ir a uma LeiriaCon sem trazer algum jogo para casa, e este ano foram dois jogos usados.
D. Afonso Henriques
O D.Afonso Henriques é um jogo português da MesaBoardGames, neste jogo para até 4 jogadores fazemos o papel de um general do exército de D. Afonso Henriques na sua deslocação deste Guimarães até ao Algarve.
Ao longo do caminho passamos por povoações onde podemos aumentar as nossas tropas, comprando cartas portuguesas, e por batalhas onde temos de escolher quais das nossas tropas vão combater os mouros.
Em cada batalha ganhamos pontos que contam para o calculo da vitória final, bem como cubos brancos que são usados para comprar as tropas e também para modificar o valor dos dados usados nas batalhas.
Ainda só fiz um jogo em casa com a minha filha (e sem perceber ainda as regras todas) e foi bastante agradável.
Progress: Evolution of Technology
Este comprei, não só por achar o conceito interessante, mas porque permite ser jogado por um só jogador, e como eu nem sempre consigo arranjar tempo para combinar jogos com mais pessoas, esta é uma forma de poder ir jogando um bocado nos tempos livres.
O conceito do jogo é simples, temos uma arvore tecnológica na qual temos de avançar, ao bom estilo de qualquer RTS. Mas a mecânica torna as coisas mais interessantes.
Em primeiro lugar temos 3 formas de “descobrir” uma nova tecnologia. A primeira é ter as tecnologias das quais ela depende, a segunda é pagando com pontos de conhecimento (que se obtêm ao descobrir algumas tecnologias) ou por fim fazendo pesquisa (a única forma que não é instantânea, temos de esperar alguns turnos).
As tecnologias também fazem avançar as Eras tecnológicas, fazendo com que tenhamos acesso a outros baralhos. No jogo base temos 3 Eras.
Depois temos um tabuleiro com as nossas skills que influenciam imenso como o jogo é jogado. Coisas como quantas cartas podemos manter na mão no fim de um turno, quantas pesquisas podemos fazer a um dado momento, ou quantas acções podemos fazer por turno. Tudo isto é influenciado pelas tecnologias que descobrimos.
No modo multi-jogador temos a dificuldade acrescida de não termos acesso a todas as cartas (o adversário descobriu algumas e tem outras na mão), no modo para 1 jogador existe uma mecânica que faz “contar” o tempo que passamos em cada Era, e se passarmos muito tempo perdemos o jogo.
É um jogo relativamente rápido de se jogar, quando se entende as regras.
E pronto foi assim o meu fim-de-semana, muito divertido.
E tu, jogas ou queres jogar este tipo de jogos? Diz ai nos comentários.